FOME
Oh, bruta fome do que não conheço!
Carência insana, surda, cega e muda
que me perfura vísceras, aguda,
e talha em treva meu porvir de gesso!
Ó, falta oculta desde meu começo,
que sega o tino e tudo que o aluda
na seca austera de água, chão, ajuda,
qual o sentido deste vácuo opresso?
Em tal vazio, arranho a sina cava
e queimo o gelo meu na densa lava
da essência doida por demais querer!
Ai, quero tanto, quero o que nem sinto!
Quero acender o escuro labirinto
da incompletude edaz do que é viver.