MOTO CONTÍNUO

Vive em mim o mesmo amor; mesma saudade

vem seguir-me nesses tempos de tristeza

e não cabe ao coração, não, com certeza,

rechaçar a solidão que ora lhe invade.

Dessas horas quase mortas, arrecade,

a minh’alma os bons bocados que aprecia

de ventura dolorida, de piedade,

não por si, mas pelo mal de todo dia.

E não deixe de viver, embora grude,

nas cortinas de seu rosto a imagem tola,

pois difícil é saber o que se quer.

Entre os fardos de viver e ser mulher,

entre as lutas a que a vida ousou expô-la,

seja fria ante a verdade eterna e rude.

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