soneto da eterna noite (cegado)
Esta é a minha palma, os dedos com seus vãos.
O rosto exposto, nariz, beiço, boca e o coração.
Vejo o vento que sopra e a falta quando não toca.
Sigo olfateando, o que a memória reboca.
Tudo me fala a ponta deste cajado tosco
Recordo do chão rosado, do degrau osco.
Das saliências, deslizes e das marquises.
No suave tato, pela marcante reprise.
Das flores, sei bem, suas cores e calores.
Quando são vermelhas, amarelas acaloradas.
Das brancas bordadas, rajadas, fina e cristalina.
Epiderme adentro, me invade, me alucina.
Este mundo de textura emite aroma e som.
Vibra. Me entona. Andando sigo meu dom.
Nariz empinado para melhor envergar,
A vida que visto, neste eterno luar.