Sou simples
Simples, sou simples, chego a ser simplório,
Como se fosse fácil me manter,
Vivo com esse fútil desprazer,
Sou simples tal defunto em velório.
Simplesmente sou, puro e recatado,
Chego a pensar que clamo no deserto
Porque vejo que não há gente por perto,
Sou simples como barco afundado.
Simples, honrado, afável, que não estoura,
Simplesmente sou, atento, em desespero,
A marca da elegância que eu porto,
Me faz simples ego, líquido e decerto,
Simples homem complexo brasileiro,
Simples homem tristonho que erra e chora.
O soneto imperfeito foi elaborado a partir do seguinte conjunto de tercetos publicados anteriormente como poesias-pensamento;
Simplex/Complex
LUTO
Simples, eu sou simples
chego a ser um simplório,
sou simples tal defunto em velório.
NAUFRÁGIO
Simplesmente sou,
simples e recatado,
simples como barco afundado.
HONRA
Simples, honradamente simples,
simplesmente atento,
simples desespero.
FOME
Simples como ave que gorjeia
E sente fome por inteiro
bica o chão e engole areia.
TRISTEZA
Simples, simplesmente eu,
só e somente eu,
simples homem que chora.
SOLIDÃO
Simples, com desejos simples,
chego a sonhar que existes,
ser que por mim implora.
JLevin
Publicado no Recanto das Letras em 16/12/2006
Código do texto: T319729