HORAS MORTAS
(Lena Ferreira)
E te direi de como as horas, tortas,
faziam ecoar os seus lamentos
em tique-taques, perturbando portas
anunciando o descontentamento
Por verem, à vida, as gentes semimortas,
por todo canto, sem tomarem assento
em canto algum e se tu não te importas
direi, também, do enorme sofrimento
Das horas gastas com assunto fútil
e do ponteiro incerto, tolo, inútil
que apontava o dedo teso, em riste
Com um discurso de ensaio raso
sobre os lamentos, ria; pouco caso,
matando as horas, tortas e tão tristes