DISSOLUÇÃO

Sinto saudade de um bem que nunca tive;

a nostalgia da ausência é sempre forte

e esse vazio, denso e calmo, é mais terrível,

porque não há solução na minha sorte.

Se nas esquinas do tempo ainda vive,

à minha espreita, essa sombra, a minha morte,

para flagrá-la é preciso um detetive,

mas eu não quero a verdade que conforte.

Se na passagem que está no meu caminho,

tudo que existe são formas de incerteza

e neste mundo a matéria segue presa,

o bem perdido é um desejo comezinho:

– E a ceifadeira nos diz que tudo finda;

que esse vazio pode ser maior ainda.

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