Lua de Sangue
Jorge Linhaça

Gritam crianças seu último grito
Caem feridas, em sangue banhadas
Ruas de Houla, na Siria em conflito
O mundo assiste, de boca calada

Tremo por dentro, enquanto assisto
A mesma história sempre reprisada
Comem camelos e coam mosquitos
Como se as vidas não valessem nada

Volto ao passado, na segunda guerra
Quando uma fera, do sangue fez rios
Calou-se o mundo perante a quimera

Deu no que deu e a casa caiu
Rios de sangue banharam a terra
Porque o mundo assim consentiu.

Que adianta expulsar diplomatas?
Dar ao tirano mais tempo a reinar
Não somos homens, já somos baratas
Entre os escombros a nos arrastar

Nações Unidas? Obra caricata
De nada vale o seu discursar
Enquanto a morte o real retrata
Quem tem o poder não o quer largar

Lua de sangue tingindo o céu
O seu vermelho reflete as ruas
Onde os corpos expostos ao léu

São os troféus que a morte cultua
Tiranos bebem o sangue com mel
E se as crianças fossem minhas, tuas?

Salvador, 31 de maio de 2012