Soneto I
A meu filho Waldir
Falaste-me do céu e me apontaste o céu
num lindo por de sol de um dia claro e lindo!...
O sol vermelho e já sem brilho ia caindo
exangue, a sucumbir em purpurino véu!...
Era bonito e triste aquele tom febril
de um sol a desmaiar nervoso e sanguinário,
no céu que se tornava, aos pouco, um lapidário
de mil constelações num palco azul de anil!...
Eu que aprendi a amar o Deus sem templo. Livre...
O Deus ternura! O Deus bondade! O Deus que vive
a verdejar o campo e a opalizar a lua!...
Fitei-te, filho meu... Com que prazer o fiz...
És a manhã radiante em meu ocaso gris...
É meu o pôr de sol... A madrugada é tua...
Brasília (DF), agosto de 1966.