Fora do meu tempo
De repente me pego aqui,
outra vez sentindo a mesma saudade,
tão intensa como estranha na verdade,
por saber que é algo que eu não vivi.
E de novo, sem saber porque,
remexo em coisas do passado,
vasculhando os versos de um antigo fado,
procurando algo que não sei o que.
E alguma coisa dentro de mim
desperta ao som do bandolim
de um velho choro antigo.
São lembranças de um passado,
me confessa o dedilhado,
diz que já nasceu comigo.
E a canção me põe leve, levanta,
me leva pra uma antiga boêmia.
E a mesma estranha nostalgia
me aperta um nó na garganta,
que sufocando ainda insiste,
a cada respirar lembrar-me o som
do encher do fole de um bandoneón
cantando solitário um tango triste.
De repente me pego de novo
brigando, invocado com o novo,
me vem um pensamento:
Acho que nasci errado
e por chegar atrasado
ando fora do meu tempo.