Inventário.
Um par de chinelos de couro.
Um gorro caramelo com viés de ouro.
Uma trinca prateada de talheres.
Uma xícara bordada de mulheres.
Uma caixa de papelão, no formato de coração.
Dentro, um lenço escarlate, perfumado de chocolate.
Uma taça que é uma graça só, um saca-rolha.
Um martelo, um metro, uma linha em nó e uma trolha.
Um aparador, um banco; parca mobília.
O único cômodo era quarto, cozinha e refeitório.
Desde o exílio, nas noites de vigília, oratório.
Nos lábios gosto de maçanilha.
Gravado no olho o lombo da coxilha.
Na palma, tatuado, o sorriso da filha.