Sonho (II)
Numa noite macabra e opressiva,
Sonhei com uma lívida figura;
Esbelta e imota, de feição tão dura;
Que fez-me questionar se estava viva.
Perante a tal figura tão passiva,
Questionei "oh! quem és, queda criatura?";
E ela, ao voltar p'ra mim a face pura,
Falou-me com voz doce e corrosiva:
"Eu sou a punição dos inocentes,
A masmorra que prende e turva as mentes,
A ilusão de voar, caindo em dor...
Sou matéria do júbilo incorpóreo,
O paraíso, inferno e purgatório...
Sou tua insanidade... Eu sou o Amor."