Desengano
Quando subi no altar do Desengano,
Encontrei uma pira com dourada
Chama que refulgia maculada
Pelo fumo mais turvo e mais ufano.
Fumo fúnebre, forma deformada...
Do farto fogo, filho mais profano...
Infame afim ao fel que – atroz tirano! –
Ceifou a luz dest'alma esfacelada.
"Oh! que queima – eu gritei – nesta vil pira
Que tanto e tanto do pesar m'inspira
E sega do futuro boas lembranças?"
Voltei-me p'ras paredes, tão escuras,
E vi, numa inscrição, palavras duras...
Ali queimavam minhas esperanças.