Gândara deserta
Caminhei pelas gândaras desertas
Do sonho em que vivia: o acaso vinha,
Com refulgências tímidas, incertas,
Mostrar-me a estrada, quando eu me detinha.
Pairavam no ar as rosas entreabertas
Que ao sol florescem, quando se avizinha
A sombra. Nuvens de palor cobertas
Surgiam. Era o luar. Ó noite, és minha!
E dizia: - Viver eu posso agora,
Até que a morte venha amortalhar-me,
Outra vez, áurea túnica de aurora...
Posso sentir, em plena noite nua,
Todo o fluido vital que há no meu carme,
Que é como um beijo trágico da lua!