Penélope
Edir Pina de Barros

Os fios do meu ser eu mesma cardo e urdo,
e teço o meu viver com muitos pontos, laços,
tramando, sem cessar, os íntimos espaços,
embora esqueça alguns, prossigo e não me aturdo.
 
Eu não me importo, não, se eu urdo ou se desurdo,
e sigo o meu viver, tecendo os próprios passos,
se necessário for desmancho, sim, refaço,
neste fazer sem fim de meu destino surdo.
 
E faço sem cessar a minha tessitura,
teço na luz do sol, no breu da noite escura,
sem nunca descansar ou demonstrar cansaço.
 
Coloco em meu tecer as sedas da poesia,
dos sonhos, da ilusão, saudade e nostalgia,
mas se preciso for teço com fios de aço!
 
Brasília, 05 de Maio de 2012.


Livro: Sonetos Diversos, pg. 14 
            Sonetos selecionados, pg. 17
 


nominado3 de junho de 2012 16:08
 

Bela é a inversão em Penélope , onde um símbolo normalmente de submissão e espera é transformado em um símbolo de superação e força , o final , a entrada do aço , também é notável , ressaltando a contraposição. Dialoga de modo interessante com o clássico , tudo isto somando-se a temática da estética , em um parelelo constante.

Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 05/05/2012
Reeditado em 22/06/2020
Código do texto: T3650902
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