O ESCULTOR E A FACE

De tanto burilar a pedra bruta,tôsca,

Eis que num olhar angustiante paro,

E vejo que a imagem da estátua fôsca

Busca em meu olhar um mesmo reparo.

Corro à marteladas de extremo desgosto,

Enquanto as faíscas brotam fogo no cinzel,

Jogo as pedras brutas,edazientes de rostos,

Todas amontoadas em condenado batel.

Uma a uma se afundam no lago do esquecimento,

E eu,cansado,volto para o fardo do trabalho

Onde penosamente o meu lucro martirizo...

Derramo sobre o meu corpo a mistura de cimento,

E sem saber,na minh´alma,o pecado maior talho;

A indiferença da vida na mudêz do meu sorriso.

Gilberto de Carvalho
Enviado por Gilberto de Carvalho em 29/01/2007
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