Inferno
Ivan Eugênio da Cunha

Já meus dias são cheios de tristura;
E, n'atroz negridão, pesada e fria,
Minha mente se turva em nostalgia;
E meu peito flameja em amargura.

Esta dor que devora em chama escura;
Mor se faz na lembrança de que um dia;
Tive, n'alma, esperanças em que cria;
E delas ora sou a sepultura.

O que tem coração despedaçado;
Juntar cada pedaço tem por fado,
Num deserto de treva, andando só.

Mas que fado terei do mal me feito,
Se, no inferno funesto de meu peito,
Ardeu meu coração até ser pó?

 
Em resposta:

Inferno
Edir Pina de Barros

Devora-te essa chama da amargura,
da atroz desesperança e nostalgia,
que torna, a frágil alma, só, vazia,
amortalhada e triste sepultura
 
dos sonhos, dos desejos, da alegria
perdida em grande enfado, dor, tristura, 
nas brumas dessa noite fria e escura,
sem lua, sem estrelas, poesia.
 
Devora-me, também, teu triste fado
de ter o coração amortalhado,
queimando, feito inferno, no teu peito.
 
Porque, sem ti, me queimo em outro inferno,
sentindo dentro d’alma o frio inverno,
morrendo-me de amor, em nosso leito.

Brasília, 17 de Abril de 2012.
ESTILHAÇOS, 87
Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 17/04/2012
Reeditado em 17/10/2020
Código do texto: T3618647
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