Véu
Levante-se este véu sobre as palavras
e se verá a essência da poesia,
porque esse tênue véu que se estendia
era o cascalho donde vêm as lavras.
Eu garimpo silêncios na peneira
de onde extraio estrelas desmaiadas;
escorrem-me das mãos águas-furtadas
que o vento sopra e leva na poeira.
Fica-me só a memória desse brilho
que foi fugaz momento de ternura,
como se fora o abraço de um filho
partido há muito numa noite escura.
Este véu é o caminho que hoje trilho
e onde me invento criador e criatura.