SONETO

A praça estava cheia. O Condenado
Transpunha nobremente o cadafalso,
Puro de crime, isento de pecado,
Vítima augusta de indelével falso.

E na atitude do Crucificado,
O olhar azul pregado n’amplidão,
Pude rever naquele desgraçado
O drama lutuoso da Paixão.

Quando do algoz cruento o braço alçado
Se dispunha a vibrar sem compaixão
O golpe na cabeça do culpado

Ele, o algoz - o criminoso – então,
Caiu na praça como fulminado
A soluçar: perdão, perdão, perdão.

(Augusto dos Anjos).





RESSURREIÇÃO

E o céu fechou-se escuro n’amplidão
Do mar à terra trêmula de espanto
Regada a sangue e lágrima de um Santo
Que aos seus algozes deu-lhes o perdão.

Feridos pés, as mãos, o coração,
Despido o corpo, viu à sorte o manto;
Santo sudário úmido de pranto,
Sangue e suor na cruz vertendo ao chão.

Não foi a dor maior, a da matéria.
Humana, a dor menor que a dor divina,
N’alma a sofrer tamanha humilhação

Ao ver na vida quão triste miséria,
Jesus na carne já cumprida a sina
Venceu a morte com a ressurreição.

(Hermílio).






LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 17/04/2012
Reeditado em 20/05/2012
Código do texto: T3618166
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