Adagio Molto
Que língua morta jaz no silêncio do pó,
enquanto aqui me perco ignorando a fé?
Se apenas ela diz, da criação tão só,
do inevitável risco de ser o que se é.
Eu conheço o distante perfume sutil,
das coisas que já foram embora pra lá,
onde a lembrança guardou meu sonho febril,
e minhas farpas cegas, horas que não há.
Daqui transcrevo a música desse torpor,
Silenciados que estão meu ódio e a dor,
pois mesmo sendo eu a fera que só eu sei,
Entendo a cura da alma que enfim libertei,
Quando o tempo fiz eu parar no coração,
de quem de mim só soube não ser eu a razão.