Ofício
Escrever versos é labor e vício,
Mesmo na obra ébria e incorreta
Prevalece a rédea bem discreta
Do bom senso e tédio do suplício.
No dia longo, o tórrido solstício,
Labuta assim a lépida e secreta
Letra: e outra cálida direta
Poesia nasce esquálida do ofício.
Sempre ele surge sôfrego por dor,
Consome a alma lívida, pálida,
Daquele artesão, eterno triste.
O luxo desse vão trabalhador,
É ter naquela mão quase inválida,
Um pedaço de lápis, sempre em riste.