Receosa
Sente como fria é a solidez do papel,
ora trêmulo no frescor de teus dedos
sequiosos de bulir mais dos segredos
que me preservam a vida sob frágil véu.
Decerto, tudo sabes de mim porquanto:
dei-te os mistérios das ambições e planos,
mostrei-te as artérias dos meus anos;
e agora - ó, que o amor é acalanto -,
depressa imerges, no poema, percorrer-me fiel
o íntimo, assim te distraindo a vasculhar-me
como elemento pulsátil da tua substância
que, em mim, movimenta minha ânsia.
Mas, no peito vibrante é sangue, é carne,
e tudo te pertence, não apenas papel.