A TAÇA INVERTIDA

A taça em que borbulha um claro vinho – e leve –

aquele em que bebeste as seivas de um afeto,

transpira em névoa branca, o excesso, mas não deve

perder de sua essência, o olor de que é repleto.

Passou aquele instante, a febre intensa e breve

e em luta contra tudo, estranho a tal projeto,

juntaste amor e dor nas páginas que escreves,

fingindo indiferença, o escudo predileto.

A taça que versou o vinho sobre a blusa,

que umedeceu o colo e pôs a desmaiar,

a jovem que cruzou o teu olhar, confusa,

conserva por inteiro as curvas de teu sonho,

retém no seu cristal um brilho de luar,

reflete na memória um souvenir risonho.

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