A Janela Cerrada
*
Eu, pobre trovador à tua janela,
Cerrada ao meu canto, cerrada ao luar,
Já não m'alembram flores no teu olhar,
Não me alembra o sorriso de donzela.
Nesta noite ao meu redor tudo gela.
O vento lembra um demónio a assobiar,
No porto da saudade ruge o mar
Com náufragos condenados na goela.
E tu, que ainda deambulas na memória,
Aos olhos do céu tão antiga glória,
Dia e noite encerrada num mosteiro!
Largo o alaúde, ao vento atiro versos,
E parto, vago, por trilhos dispersos,
Em silêncio maculando o nevoeiro.