A Janela Cerrada

*

Eu, pobre trovador à tua janela,

Cerrada ao meu canto, cerrada ao luar,

Já não m'alembram flores no teu olhar,

Não me alembra o sorriso de donzela.

Nesta noite ao meu redor tudo gela.

O vento lembra um demónio a assobiar,

No porto da saudade ruge o mar

Com náufragos condenados na goela.

E tu, que ainda deambulas na memória,

Aos olhos do céu tão antiga glória,

Dia e noite encerrada num mosteiro!

Largo o alaúde, ao vento atiro versos,

E parto, vago, por trilhos dispersos,

Em silêncio maculando o nevoeiro.

Adrianus
Enviado por Adrianus em 21/03/2012
Reeditado em 21/03/2012
Código do texto: T3566525