BORRALHO
Eu sou uma velha gata borralheira,
Encostada no beiral da velha parede,
Esperando a noite (minha boa conselheira)
Trazer a calma e me balançar a rede.
Só assim posso esperar a madrugada
Para sacudir minha veste pobre e enegrecida,
Receber o dia bonachão em sua gargalhada,
Estendendo-me a mão em alegria convencida.
Espreguiço-me diante dele na preguiça contumaz,
Como uma sombra a procurar um abrigo
No desenrolar da matina entre a luz e a paz.
Fujo da claridade que a mim faz do muito mal.
No borralho da vida sempre procuro um amigo
Para limpar o caminho desse triste cartão postal.
DIONÉA FRAGOSO