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NUNCA JAMAIS – 12/12/11

Já ancorei meu barco no jamais,

porém nunca no nunca me ancorei:

é que rima para nunca rara achei

e nunca achei ter rimado por demais...

O nunca me negou o nunca mais,

mas o jamais é negação de rei;

jamais renunciarei à própria lei:

calai-vos, nuncas, que em desencanto estais!

Aduncos nuncas que humilde não recolho,

e não recolho nuncas no jamais,

pois me anuncio em nuncas naturais,

porém em tempo algum também me acolho,

a dizer que não espero mais nenhum

nunca-soneto em seguimento deste algum!

INDIVISO I (28 JUN 06)

Tu sabes bem que nos será difícil

Modificar as vidas de improviso;

Por isso o coração tão indeciso

Conservas tal como se fosse físsil

E dividido em lâminas delgadas:

Até um ponto é amor; porém, aqui,

É amor de filha e irmã; e logo ali

compartilhas emoções interligadas...

Não é assim comigo: eu sou inteiro,

Não me divido, eu sei o que desejo,

Sou permanente, sem qualquer paixão.

O que sinto por ti é verdadeiro:

Por mais que anseie, alfim, pelo teu beijo,

Prefiro muito mais tua alma e o coração.

INDIVISO II (14/12/11)

Essa coisa de querer amor de alma,

Por incrível que pareça, é masculina,

Pois desde a infância prepara-se a menina

Para ter amor de corpo, em plena calma.

É o desejo de ser mãe que já a embalma

Muito criança... e sua boneca pequenina

Já é o futuro nenê, a quem ensina

Como deve obter do mundo a palma.

Já o menino não: quer aventura

Ou anseia pela glória militar,

Por pescarias, de caçadas pelo ensejo

Ou por esportes de adrenalina pura,

Por mais que o sexo o faça desejar,

Ao ver uma mulher, seu doce beijo.

INDIVISO III

E até endeusa por isso, justamente,

A cristalina alma da mulher

Que lhe vale muito mais que outra qualquer

De quem o corpo apenas quer presente.

Pois dos folguedos ela se acha ausente,

Não lhe parece material sequer,

É sobre altar que colocá-la quer,

Para acender-lhe um círio redolente...

E sempre encontra seu desapontamento,

Ao perceber que, por mais que ela o ame,

É bem mais prática e quer montar seu ninho,

A que possa preencher de encantamento

Por qualquer filho que seu amor reclame,

Sobre quem possa derramar o seu carinho.

INDIVISO IV

E desse modo, o coração lhe bate,

Talvez mesmo em uníssono com o seu,

Mas esse amor divino que lhe deu

Tem pouca duração que se lhe date

E pelo amor carnal logo se abate,

Porque, afinal, é o que ela concedeu

E de subir no pedestal já se esqueceu,

Sua alma toda dividida pelo embate,

Pois quer ser mãe, ser filha e ser irmã

E não somente esposa dedicada

E tais amores separa em escaninhos,

Sem pretender ser deusa ou cortesã,

Porém mulher à vida plena consagrada,

Repartindo entre muitos seus carinhos.

REGRAS DA VIDA LXXVIII – 13/12/11

Por mais velho que seja, você ainda é filho

e não deixa de sê-lo, por longa seja a vida;

não importa há que tempo seus pais tenham guarida

na derradeira casa, no derradeiro trilho,

ou se ainda lhes durar da vida qualquer brilho,

seu dever é tratá-los igual, dar-lhes comida,

com o máximo respeito, ao longo dessa lida.

Esqueço a má lembrança e o coração humilho,

enquanto ainda os recordo, igual que um dia espero

meus filhos me perdoem por qualquer mal que pensem

que tenha-lhes causado, por raiva ou indiferença.

E assim deve você; e o conselho não altero:

seja atencioso e cortês nas situações que tensem

aos máximos extremos os fios de sua paciência...

William Lagos
Enviado por William Lagos em 17/03/2012
Código do texto: T3559887
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