VERTENTE
Ai de mim, se não deixar que a poesia escorra,
Qual lava de vulcão, neste meu sofrido peito;
É certo que a minh’alma, de tão triste, morra.
Então, que ela escorra se não há outro jeito.
Ai de mim, se não deixar que o poema invada,
Ruas e calçadas, como as flores na primavera;
É certo que a minh’alma perambule alucinada,
Então, que ela escorra nas lágrimas e quimeras.
É certo que a minh’alma, de tão triste, morra.
Então, se não há outro jeito, que a poesia escorra,
Deste coração, entre espinhos, pedras e flores;
Como uma vertente que forma em mim um rio,
Que seguindo o curso desemboca no mar bravio,
Buscando nas ondas o soro para minhas dores.