JANELAS NAS TARDES III
Da minha vasculho parapeitos dos prédios,
Nada vejo em minha procura por alguém,
Só cortinas voando, pombos em assédios
E uma velha só, a conversar com ninguém.
Será esse mesmo vazio que lhe persiste?
Penso e proponho a não mais pensar assim,
Meu tempo é outro, minha lucidez existe,
Mesmo sem saber por que à janela vim.
Mas por que nesse apartamento eu me acosso
A olhar janelas – o que por trás se esconde?
Quando pelas calçadas mais que isso eu posso.
Responder, não sei – divago sobre amplidões
E dos mistérios que a vida nunca responde,
Mas tanto insiste no prazer das ilusões.