Eu e o Verme

*

Ao raiar do sol, como por desprezo,

Rastejo até à penumbra mais sombria

E, agro, amaldiçoo a luz do dia,

A vida, o Universo inteiro aceso.

Quando a sombra s'esvai fico indefeso.

Escavo bem fundo, à terra fria,

Tendo o bicho roedor por companhia,

Que labora ávido num corpo teso.

Eu e ele nos parecemos mais e mais.

Em rastejar, mudos e coisas tais,

Com vontades d'esburacar o mundo.

Amiúde m'hospedo num caixão velho,

Como o piolho s'hospeda num pentelho,

Sôfrego por inspirar o ar imundo.

Adrianus
Enviado por Adrianus em 12/03/2012
Reeditado em 12/03/2012
Código do texto: T3549183