Em Tarde Surreal
*
Travo-me no tempo, assim suspenso
Num quase vazio, no beiral do céu,
Que não há dia nem noite, nem luz, nem breu
E nem abstracto parece o que penso.
Ao alhear da realidade sou propenso
E embarco na nave do sonho meu
Que se dispara ao mais alto apogeu,
Tão etéreo, envolto em nevoeiro denso.
Disperso o corpo em tantas direcções,
Acervo d'átomos em colisões
Tremendas com os portais do infinito.
Desintegro-me, de volta ao começo,
Que mais uma criatura não pareço;
Não respiro, não sinto, nem cogito.