Cavalgada Sombria
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Pesada, cravando-me no flanco a espora,
A morte vai veloz por galerias
Que afunilam o lume dos meus dias
Nesta derradeira, negra e magra hora.
Em ataúde, roxa, a luz da aurora,
Sob sudário de pétalas sombrias
Que exalam cheiro fétido das pias,
Já sem esperança, inda estertora.
Tropeço no mármore de um jazigo,
A morte na lama rola comigo,
Com desdém de tão pobre montaria.
Raio fortuito despenha-se na tumba,
A luz da aurora alumia a catacumba
E por milagre a noite se faz dia.