Noite Miserável
*
Tredo luar qu'assoma por entre a cortina
Espavora a penumbra no meu rosto
Onde rasteja tremendo desgosto,
Onde a tristeza é um verme que rapina.
Nasci de um sujo parto, de má sina,
Naquele fatídico mês de Agosto
À luz enegrecida do sol-posto,
Talvez ao relento, e numa esquina.
As flores no vaso lembram-me escarros
Coloridos suspensos em agonia,
Envoltos pelo fumo dos cigarros.
Praguejo ao mundo com negro desdém
E execro eternamente a luz do dia,
Que a minh'alma já rasteja no além.