Náufrago...

Vivo e ainda tão só, restrito ao leito pobre,

Basta à minh’alma a calma e o fim do velho pranto

Tão decadente, eu sei, e enfim soltando o canto

Nessa sinestesia o atrito de água e cobre...

E posto que eu houvesse escrito em ouro nobre

As letras de um poema assim em desencanto,

O vosso olhar que é puro e em mim um acalanto

Jamais veria a dor ou grito, ânimo dobre...

Quase logrei cessar tristeza, algoz terrível,

Mas não vi força em meu ser frágil, quase morto.

Toda uma vida aquém do adágio ‘rei deposto’...

Além da linda e vã destreza em ser passível

De ter ness’arte audaz pureza e ainda absorto

Por vossa ausência vil: naufrágio em vosso gosto.

Ronaldo Rhusso

RonaldoRhusso
Enviado por RonaldoRhusso em 05/03/2012
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