Jantar Macabro

***

Hoje jantei com a morte. Sem medo,

Conviva de tão temida anfitriã

Que talvez m'engula inteiro amanhã

Sem escarrar a unha podre de um dedo.

Não estranhei o seu hálito mais qu'azedo,

Nem vê-la nua nos braços de Satã

Que rasgava-lhe, salaz, o sutiã

E mirava-me a rir com olhar tredo.

Roí os ossos bolorentos do passado

E num cálice sujo, ao meu lado,

Fervia o sangue espesso da amargura.

Pisava os vermes que os pés me roíam

Mas outros tantos da terra emergiam,

Querendo arrastar-me à sepultura.

Adrianus
Enviado por Adrianus em 03/03/2012
Código do texto: T3532154