Jantar Macabro
***
Hoje jantei com a morte. Sem medo,
Conviva de tão temida anfitriã
Que talvez m'engula inteiro amanhã
Sem escarrar a unha podre de um dedo.
Não estranhei o seu hálito mais qu'azedo,
Nem vê-la nua nos braços de Satã
Que rasgava-lhe, salaz, o sutiã
E mirava-me a rir com olhar tredo.
Roí os ossos bolorentos do passado
E num cálice sujo, ao meu lado,
Fervia o sangue espesso da amargura.
Pisava os vermes que os pés me roíam
Mas outros tantos da terra emergiam,
Querendo arrastar-me à sepultura.