Dor
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Há dias que nos sentimos esmagados
Pela consciência, que nos racha os ossos
Com o granito dos seus punhos grossos,
E a gemer ficamos, abandonados.
Dias outros, cruz de chumbo nos costados,
De seres humanos pálidos esboços,
Pseudo cristos em dez mil destroços
Expiando os vícios dos antepassados.
Em cada alma um santo, um mártir vivo
Que busca redimir-se pela dor,
Que d'espinhos vis se torna cativo.
Há dias beras que esfolam-nos a crú
E já pétala serena de flor
Em vão nos amortalha o corpo nú.