Sou um navio que ...
À tarde passa vagarosamente,
Olha nos meus olhos e vai embora
Sem despedir-se segue simplesmente,
E, já saudosamente minh’alma chora.
Pois sabe que no decorrer da hora,
A dor há de chegar impertinente,
Pois toda noite invariavelmente;
Chega e morde como quem devora!
E, isto, já vem d’uma longa data,
Pouco a pouco, sem pressa, me cata,
Põe-me estático e quase morto.
Porém, não posso mal dizer a sorte,
Sou um machado que perdeu o corte;
Sou um navio que não busca um porto!