715571.jpg
E SE EU MORESSE DEPOIS...

E se eu morresse depois, a mula de carga,
Com duas bruacas em cima, pachorenta,
Nos íngremes morros do céu, em marcha lenta,
Orelhas murchas, caídas; suor na ilharga.
 
Nas bruacas, em uma o mal feito se ostenta.
Se o sonho só sonhado o remorso alarga
Junto com o mal, o sonho frustrado amarga,
Leveda n’alma e noutra vida se apresenta.
 
O bem, na outra bruaca, uns gramas a mais, creio
... e Deus dá valor pr’este avanço pequenino;
Aplaude o mulo que masca e respeita o freio.
 
Se eu morresse depois, ainda há tempo, me animo,
Para deixar a bruaca do mal só ao meio;
Pavimentar de asfalto este chão peregrino.

9FA_8232010_mules.jpg
 

Afonso Martini
210212
 
Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 27/02/2012
Reeditado em 27/02/2012
Código do texto: T3523444
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.