DIVIN O CLÍMAX

Pobre! Coberto com andrajos da loucura!

Na abstração das coisas vivas – misterioso –

Ali na esquina, só e imóvel, na postura

De algum gendarme francês sisudo e belicoso!

Ninguém repara na tristonha desventura!

E o povo passa, e o povo canta enorme gozo!

Que quadro horrível! Que dantesca investidura,

Um resto humano de reinado poderoso!

Mas... uma vez, eu vi e posso até jurar:

Foi num momento de divina inspiração,

De doce e rara lucidez no limiar:

Esse infeliz olhou por cima, a multidão...

Resfolegou profundo e pôs-se a soluçar.

Depois... voltou à inexorável posição!

Salé, novembro de 1998 Lucas