Pássaro artesão
Todo poeta é parte asa e parte chão.
Sou asa quando sonho que perdoo
todos os crimes e até me afeiçoo
e trato ao infortúnio como irmão.
Quando traço o poema sou a mão.
No pensamento inquieto eu alço voo,
depois volto e as rimas abotoo
e lhes ato o fecho da pontuação.
Sou asa e mão e este meu canto entoo,
sem distinguir o real da sensação
mesmo no que defendo e apregoo.
Nesse embate entre a mente e o coração
eu próprio então me alegro e me magoo.
Todo poeta é um pássaro artesão.