Amor Post Mortem

Faz meus dias tão tétricos, cinzentos,

Este amor, que maior é dos enfados;

Que tornam, cada dia do meu fado,

Um báratro de fartos sofrimentos.

Meu peito já conclama, nos lamentos,

Que algum aço lhe viole em golpe dado;

Com violência, p'ra que ele, um desgraçado,

Do amor mais não receba vis tormentos.

Mas não virá defunto deste amor;

P'ra aquele grã jazigo acolhedor,

Que, a mim, receberá tão antetempo:

Viverá na agonia dos meus versos;

Até que esses, em negro pó, dispersos,

Mais não manchem as páginas do tempo.

Ivan Eugênio da Cunha
Enviado por Ivan Eugênio da Cunha em 10/02/2012
Reeditado em 10/02/2012
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