Amor Post Mortem
Faz meus dias tão tétricos, cinzentos,
Este amor, que maior é dos enfados;
Que tornam, cada dia do meu fado,
Um báratro de fartos sofrimentos.
Meu peito já conclama, nos lamentos,
Que algum aço lhe viole em golpe dado;
Com violência, p'ra que ele, um desgraçado,
Do amor mais não receba vis tormentos.
Mas não virá defunto deste amor;
P'ra aquele grã jazigo acolhedor,
Que, a mim, receberá tão antetempo:
Viverá na agonia dos meus versos;
Até que esses, em negro pó, dispersos,
Mais não manchem as páginas do tempo.