MIGRAÇÃO

Nos leitos em que se deita minha canoa,

Nas águas pouco profundas, deveras calmas,

Navegam alienadas diversas almas

– A vida nessas paragens já não é boa.

Nas linhas que desenharam a minha palma,

No curso desse remanso tudo destoa

E o canto repete em ecos a mesma loa

– À margem do sentimento, a dor se espalma.

Nos sonhos onde flutuam desejos tristes,

E a capa da realidade não vê futuro,

Estranho, por meus sentidos, tudo que existe,

A falta de algo mais belo, intenso e puro.

A sombra, parada ao lado, a tudo assiste

– Deslizo no meu murmúrio e a esconjuro.

nilzaazzi.blogspot.com.br