MIGRAÇÃO
Nos leitos em que se deita minha canoa,
Nas águas pouco profundas, deveras calmas,
Navegam alienadas diversas almas
– A vida nessas paragens já não é boa.
Nas linhas que desenharam a minha palma,
No curso desse remanso tudo destoa
E o canto repete em ecos a mesma loa
– À margem do sentimento, a dor se espalma.
Nos sonhos onde flutuam desejos tristes,
E a capa da realidade não vê futuro,
Estranho, por meus sentidos, tudo que existe,
A falta de algo mais belo, intenso e puro.
A sombra, parada ao lado, a tudo assiste
– Deslizo no meu murmúrio e a esconjuro.
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