As Trevas
**
Vem a noite. Cobre o vale, o morro,
Cobre os olhos do místico lendário
Com a seda de um imenso sudário
E mil estrelas lúridas por forro.
Na distância soa voz de cachorro,
Ladrando à lua, demente, temerário,
Rasgando tal silêncio funerário
De jazigos de coveiro modorro.
Em legiões macabras correm a terra
Esqueletos armados com cutelos,
Filhos da morte, arautos da guerra.
Alastram, de pólo a pólo, os gelos.
Ouve-se, em terror, alma que berra,
Arrastada ao Inferno pelos cabelos.