Realidade
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Em melodia etérea, d'azul e rosa,
A sua voz angelina, ondulante,
Soava, perdida, no tempo distante,
Ora plangente, ora murmurosa.
Em visões a lembrava, tão formosa,
Mas padecia de saudade constante,
Por de tão lindo sonho ser amante,
E era punido, em vida penosa.
Assim vivia, escravo de quimeras,
Até que, vagueando noutras esferas,
Encontrei o semblante da realidade,
Quase tão belo, quase tão inocente,
Eu diria, semblante de amor presente,
Que não nutre quimeras, nem saudade.