Garra
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A mão qu'acendeu os céus foi a mesma mão
Que num acesso de ira, de loucura,
Os astros carregou com tal negrura
Qu'existe apenas trevas desde então.
Essa mão alheia fez-me em pinho o caixão,
Cavou, fundo, a minha sepultura,
Cobriu-me o rosto com mortalha impura
E açulou o verme, à atra procissão.
Por fim, gravado em lápide marmórea,
Elogio reles à minha memória,
E um vaso de anémonas entornado...
A mão que levei aos lábios vezes mil
Transformou-se, treda, em garra hostil,
Jubilante por me haver sepultado.