Garra

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A mão qu'acendeu os céus foi a mesma mão

Que num acesso de ira, de loucura,

Os astros carregou com tal negrura

Qu'existe apenas trevas desde então.

Essa mão alheia fez-me em pinho o caixão,

Cavou, fundo, a minha sepultura,

Cobriu-me o rosto com mortalha impura

E açulou o verme, à atra procissão.

Por fim, gravado em lápide marmórea,

Elogio reles à minha memória,

E um vaso de anémonas entornado...

A mão que levei aos lábios vezes mil

Transformou-se, treda, em garra hostil,

Jubilante por me haver sepultado.

Adrianus
Enviado por Adrianus em 26/01/2012
Reeditado em 26/01/2012
Código do texto: T3462157