Cidade Nua

*

Altas horas. Por vielas, becos escuros,

Escorre o vício qu'entulha as sarjetas

De escarros pestilentos de poetas,

Malditos, de versos negros, impuros.

Como heras vadias, roçando nos muros,

Damas s'anunciam às vagas silhuetas

Que na penumbra pululam discretas,

Como chusma de mórbidos oxiúros.

Aqui plangor, acolá vil praguejo

E mais além leiloa-se um simples beijo,

À luz de estrelas enauseadas.

Fede assim, à noite, a cidade nua.

Arrasta-se a vergonha pela rua,

Até ao imáculo raiar das madrugadas.

Adrianus
Enviado por Adrianus em 21/01/2012
Reeditado em 22/01/2012
Código do texto: T3454155