Cidade Nua
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Altas horas. Por vielas, becos escuros,
Escorre o vício qu'entulha as sarjetas
De escarros pestilentos de poetas,
Malditos, de versos negros, impuros.
Como heras vadias, roçando nos muros,
Damas s'anunciam às vagas silhuetas
Que na penumbra pululam discretas,
Como chusma de mórbidos oxiúros.
Aqui plangor, acolá vil praguejo
E mais além leiloa-se um simples beijo,
À luz de estrelas enauseadas.
Fede assim, à noite, a cidade nua.
Arrasta-se a vergonha pela rua,
Até ao imáculo raiar das madrugadas.