Negra Cabeleira
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De negrores raríssimos, vistosa,
Que das sedas, dos veludos tomou a essência,
Em cachos se queda, por indolência,
Resvalando em espádua voluptuosa.
Atrai sátiros de língua gulosa,
Ávidos por macular a inocência
D'adornos virginais, com vil ardência
Das falanges d'índole maliciosa.
A lua cheia, em quebrantos, feiticeira,
Verte ânforas de luar na cabeleira,
Tomada por despeitos e vãos ciúmes
Do negror de tal enfeite, tais gemas,
Desfiada em noites mil, em mil poemas,
Cingida por auréola de perfumes.