"SEMPRE COM RESSALVAS"
E eu ouço o clamor das frases feitas,
Tais como: ‘A verdade há de ser dita!...’
Quem afirma se esquece, ou não traz suspeitas
De que ela pode lhe ser uma arma maldita.
E eu ouço o refrão brandir ao vento impaciente,
Ecoando forte como a real verdade de vida.
Quem ecoou não sabe, mas se dá por contente
Em tê-la por brasão, por escudo, por medida.
E eu ainda ouço como o murmúrio das brumas alvas,
Martelando em aço, não se importando a quem fira:
‘Há de ser dita!...; Há de ser dita!...’, pura demagogia...
Conquanto não lhe doa, nem lhe angustia,
Conquanto que ela não lhe condene, nem interfira,
“Alguma verdade há de ser dita...”, mas “... com ressalvas...”
(ARO. 1994)