Cavando a Sepultura
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Não confio no coveiro, esse esbirro
Da morte, vil corcunda com mão impura.
Cavará nunca a minha sepultura,
Hostes de vermes ao seu passo acirro.
Ao pegar na pá três vezes espirro,
Que da má sorte repele a criatura,
E, grave, assaltando a terra dura,
Cavo a cova sob auspícios d'alvo cirro.
Seis palmos não chegam. Talvez mais seis,
Vezes seis, às pétreas tumbas de reis
Obscuros, olvidados pela história.
Subo a pulsos, do fundo abismal,
Da terra madre o cordão umbilical,
E volto ao mundo, feliz entre a escória.