Carregando a Cruz
*
Onde piso a dor brota, brota o cardo,
E as urtigas, subindo as minhas pernas,
São espectros de memórias eternas
Que, infeliz, arrasto como um fardo.
Em chegar aos trilhos suaves eu tardo
Pois, à noite, sem astros, sem lanternas,
Perco-me por dédalos, em cavernas,
E quando o dia nasce, nasce pardo.
Já me roeram as solas dos sapatos.
Os pés, em sangue, procuram regatos
De água límpida, fresca, redentora.
E assim vou, errante, ao dorso a cruz,
Em busca de calma, de amor, de luz,
Cuspindo segundos desta amarga hora.