Pietà
(Inspirado numa cena de “Macário”)
Pobre mulher! Por que assim segues a embalar
No murcho seio este cadáver descorado?
Não vês? Sinta-lhe o rosto rígido e gelado,
Que a Vida jamais tornará a animar!
Não vês, mulher? O que estás a acalentar
É um defunto frio e inanimado!
Da morte dorme o fundo sono, imperturbado,
E nada nem ninguém dele o pode acordar!
Não ouve-me…! Pobre mulher enlouquecida,
Assim chorando por um cadáver em vão
E crendo que no seio embala a vida!
Quem haverá de compreender o coração
De uma mãe…? Ah, pietà desconhecida,
Teus segredos não profanem leviana mão!