No Velório
*
Se a voz me falta; se o olhar se mareja,
Quando, nostálgico, passo à tua porta,
É porque a alma dor tanta não suporta,
A saudade, maldita, me apedreja.
Se m'alembram teus lábios de cereja,
A boca, tão fresca, que ao beijo exorta,
Expludo em pranto por sabê-la morta,
Exposta no velório de uma igreja.
Odeio pensar que a tua cândida mão
Dará alimento ao verme, esse cão
Rastejante que a morte cheira a milhas.
Se, em sonhos alvos, me visitares,
Leva-me, anjo terno, pelos ares
A ver céu de sublimes maravilhas.