No Velório

*

Se a voz me falta; se o olhar se mareja,

Quando, nostálgico, passo à tua porta,

É porque a alma dor tanta não suporta,

A saudade, maldita, me apedreja.

Se m'alembram teus lábios de cereja,

A boca, tão fresca, que ao beijo exorta,

Expludo em pranto por sabê-la morta,

Exposta no velório de uma igreja.

Odeio pensar que a tua cândida mão

Dará alimento ao verme, esse cão

Rastejante que a morte cheira a milhas.

Se, em sonhos alvos, me visitares,

Leva-me, anjo terno, pelos ares

A ver céu de sublimes maravilhas.

Adrianus
Enviado por Adrianus em 15/01/2012
Reeditado em 15/01/2012
Código do texto: T3441696